Aprenda a ter foco

Resenha crítica

FOCO

Nara Maria Müller

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GOLEMAN, Daniel. Foco: A atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

 

            Daniel Goleman é psicólogo e professor da Universidade de Harvard, jornalista e escritor de várias obras, entre as quais, o best seller: Inteligência Emocional. Goleman é cofundador da Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning, nos Estados Unidos.

O livro “Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso” está organizado em sete partes, num total de vinte e um capítulos, que ilustram, com maestria, os processos mentais e neuronais que implicam na nossa capacidade de concentração e da manutenção do foco em coisas importantes, ou em tarefas do cotidiano.

Na parte um: “a anatomia da atenção”, o autor traz conhecimentos básicos sobre os espaços ocupados por pensamentos e atos que já se tornaram hábitos, através de mecanismos cerebrais, denominados ascendentes e daqueles que necessitam de atenção e estudo para serem realizados, denominados descendentes.

Segundo Goleman, todas aquelas ações que executamos sem pensar, ou sem perceber, são dirigidas pela mente ascendente, ou seja, vão no sentido de baixo para cima, em nosso cérebro. São ações como levantar da cama, lavar o rosto, escovar os dentes, vestir-se, comer, sair de casa e, muitas vezes, até dirigir nosso carro. Essas ações já foram assimiladas por nosso cérebro e se tornaram habituais, por isso mesmo, não exigem maior reflexão e demandam menos tempo. Já as ações que exigem planejamento, como: o que vestir para o evento de hoje, como responder a um novo desafio, entender o que se está lendo, ou o enredo de um filme novo, são regidas pelo cérebro descendente, ou seja, de cima para baixo. É nesse espaço que se localiza nossa capacidade de dar foco ao que exige foco.

Esse conhecimento permite que entendamos o processo de nos concentrarmos em atividades importantes, sem deixar que nossa mente divague enquanto temos necessidade de concentração para a resolução de um desafio, por exemplo.

Na parte dois, o autor nos remete à autoconsciência, a confiança nos próprios valores, o conhecimento de nossos potenciais. Para Goleman, conhecer bem aquilo que acreditamos ser certo, discernindo daquilo que consideramos não ser o certo, determinam nossos valores e se revelam o nosso “leme interno”. O autor nos apresenta, nessa parte do livro, o mapa cerebral do corpo e menciona um discurso de Steve Jobs, ao saber que tinha câncer. Jobs recomendou, em seu discurso aos formandos em Stantford, que não dessem ouvidos às vozes dos outros, que tentariam afogar as sua própria voz interior. Segundo Goleman, é preciso saber ler as mensagens internas para melhorarmos o que chamamos de intuição. Outro ponto a destacar nessa parte dois, é o autocontrole, aquela parada para mudar o foco, antes de tomar uma atitude. O autor conta o caso da pesquisa das crianças que desejavam comer um doce, mas precisavam esperar um tempo, para merecerem uma recompensa.

Na terceira parte do livro, Goleman fala sobre o autoconhecimento e a capacidade de conhecer o outro, ter empatia cognitiva e emocional. Segundo o autor, a empatia cognitiva se refere à capacidade de concentração no que o outro nos fala, de saber o que ele está dizendo e fazendo. Esse tipo de empatia é fundamental, daí a necessidade de se aprender a manter o foco. Por outro lado, a empatia emocional diz respeito à capacidade de sentir o que o outro sente, ou seja, além de saber o que ele diz e faz saber também como e porque ele sente o que sente. É, literalmente, se colocar no lugar do outro. Segundo Goleman, essas duas competências são necessárias a quem quer que lide com outras pessoas, em vendas, em gestão, em terapia e, em coaching e, ambas, requerem capacidade de concentração e foco.

A parte quatro do livro abrange os padrões e sistemas de pensamento e ação dos seres humanos, incluindo o conceito de cegueira sistêmica. Isso significa que algumas pessoas só conseguem interpretar o que enxergam naquele momento, sem entender o que se passa no todo.

Na parte cinco, Goleman enfoca a prática inteligente e o “mito das dez mil horas”. O autor cita a pesquisa de Anders Ericsson, psicólogo da Universidade Estadual da Flórida, que afirmou que ninguém se torna melhor atleta, ou profissional, apenas pela repetição mecânica, mas pela melhoria contínua, pelo ajuste das técnicas. É isso que os fará alcançar seus objetivos.

Na parte seis, o autor nos fala do líder bem focado e traz todos os conceitos já apresentados, à luz da liderança pessoal e corporativa. É aí que o autor apresenta a importância da autoconsciência, do autocontrole, das práticas inteligentes e da visão sistêmica, para que gestores e equipes possam interagir de forma harmônica, visando o bem de todos e o alcance dos objetivos organizacionais. Nesta parte, Goleman diz que: “o campo de atenção de um líder – isto é, as questões e metas particulares em que ele se foca – guia a atenção daqueles que os seguem, quer o líder as articule explicitamente ou não”.

Na última parte do livro de Goleman, ele fala sobre a liderança para o futuro distante, enfatizando a necessidade de se pensar, planejar e viver com foco na sustentabilidade do planeta. Fala da nossa responsabilidade com a ecologia e com a permanência do ser humano nesta terra. Segundo o autor, é muito mais fácil decidirmos sobre nossas ações diante de fatos que estejam à nossa vista, do que frente àquilo que ainda não podemos ver. Isso explica, segundo Goleman, o tempo que leva até que consumidores decidam por produtos orgânicos, por exemplo, porque só conseguem enxergar a curto prazo: o menor preço, a forma mais rápida de consumir, deixando de enxergar os transtornos que serão gerados a médio e longo prazo em suas vidas e na vida do próprio planeta.

Recomendo o livro, como leitura diária, a todos as pessoas, especialmente, aqueles que têm o poder de decisão sobre as vidas de outras pessoas e sobre a sustentabilidade do planeta em que vivemos.

É uma leitura densa, recheada de informações científicas e fatos reais, que nos dão a capacidade de conhecer como e porque somos de certa maneira e, especialmente, de entender como e porque o outro é como é.

 

 

 

 

 

 

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