O princípio de Pollyana: de que vale enxergar o mundo cinza?
Nara Maria Müller
Há alguns anos, numa reunião informal entre colegas de trabalho, duas delas discutiam a crueldade do mundo, o sofrimento das pessoas no trabalho, as desigualdades sociais, a falta de interesse político dos governantes e por aí vai. A conversa acontecia em meio a algumas pizzas e uma garrafa de vinho. Eu tentava trazer à tona as coisas boas que percebia na vida cotidiana, como alunos indo à faculdade, pessoas bem-empregadas e gente realizando trabalho voluntário para ajudar os menos favorecidos.
Num dado momento, uma das colegas olhou nos meus olhos e disse: “Nara, tu enxergas o mundo através de óculos cor-de-rosa.” E concluiu sua fala, me chamando de “Pollyana”. (Pollyana, de Eleanor H. Porter, retrata a história de uma menina de onze anos que costumava jogar o “jogo do contente” – https://pt.wikipedia.org/wiki/Pollyanna). Naquele momento, senti um pouco de vergonha e pensei o quanto eu demonstrava ingenuidade diante de um mundo tão cor de cinza.
Alguns dias mais tarde, quando estava decidindo uma mudança na minha carreira, eu disse àquela colega que gostaria de ser mais impositiva com as pessoas, ser mais assertiva – queria ser um pouco mais como ela. Minha colega olhou novamente nos meus olhos e disse: “E eu queria ter a tua doçura”.
POR QUE O MUNDO PARECE TÃO CINZA
Após dar início, efetivamente, à minha carreira de coach, tenho estudado bastante o que faz com que as pessoas sejam felizes em seus relacionamentos e no trabalho.
Há tantos fatores que causam sofrimento às pessoas – a corrupção impune, a falta de emprego, o sistema de saúde precário, a violência urbana, as drogas que afetam tantas famílias. Tudo isso se intensifica por meio do enorme volume de informação que nos bombardeia a cada dia. Estímulos externos são bons, mas também podem ser bastante nocivos à nossa felicidade. Falaremos disso em outro momento.
Muitas pessoas me contratam para que eu as ajude a definir e alcançar seus objetivos, e uma das coisas que elas relatam em seus depoimentos é que sou “boa ouvinte” e que assim as ajudo a aumentar sua autoconfiança.
A cada dia, mais pessoas me procuram para falar de suas vidas, de suas angústias, de suas dúvidas em relação ao futuro – assim, na amizade. Sempre aceito os desafios e, dentro do possível, procuro ajudar a todos. E, nos depoimentos dessas pessoas, sempre ouço ou leio coisas como “teu sorriso e tua alegria são contagiantes!”
MINHA RECEITA PARA OS MOMENTOS DIFÍCEIS
Preciso confessar que, de vez em quando, enfrento situações que me causam dor e sofrimento, mas tenho absoluta convicção de que sou uma pessoa feliz.
Sabe aqueles dias em que não temos vontade de ir ao trabalho porque sabemos que há algo muito chato ou extremamente difícil a ser feito? Eu já passei por isso e, ainda hoje, enfrento algumas situações assim. Minha receita para esses momentos é pensar que, até o final da semana, esse trabalho estará concluído – e que vou me empenhar para obter o resultado mais positivo possível.
Enxergar a realidade é necessário, mas colocar um pouco de cor-de-rosa na vida é imprescindível para que sejamos felizes e melhoremos as vidas de outras pessoas.
Eu o desafio a, durante a próxima semana, pensar no quão realizado você se sentirá ao vencer um desafio qualquer, com firmeza, mas com doçura.
Experimente ser feliz: seja um pouco como a Pollyana!